"Espiritualidade e Transformacao Social" (Rev. Luiz Correa)

Nos últimos duzentos anos o Cristianismo sofreu a crítica marxista de que a “religião é o ópio do povo” (Karl Marx),ou ainda de que a “religião é o suspiro da criatura oprimida” (Ludwig Feuerbach).
O Cristianismo na verdade nao e uma religiao mas, antes, um estilo de vida. Não há uma definição de religião universalmente aceita, até hoje. Entao, apresento a minha: “Religiao e o esforco desesperado do homem chegar a Deus. Cristianismo e o esforco desesperado de Deus chegar ate o homem!”.
A espiritualidade crista nao e, portanto, religiosa, mas antes viva. Se olharmos as cartas apostolicas perceberemos a apresentacao de um estilo de vida cristao. A preocupacao dos apostolos nao era propor uma espiritualidade alienada, isto e, desprovida de senso critico, “dominada por alguma ideologia que impossibilita-a de uma correta leitura da realidade e, consequentemente, de firmar uma posição consciente a respeito das coisas”. Nao encontramos, tao pouco, nas Escrituras uma “espiritualidade alienígena”. Por espirtualidade alienígena entenda-se aquela que nos leva a abrirmos mao de nossas responsabilidades sociais, sob o argumento de que “nao somos deste mundo”. Como disse o teólogo e cientista político Robinson Cavalcanti, a igreja tem “preparado ‘alminhas’ para viverem no céu e não cidadãos para viverem no mundo”
A verdadeira espiritualidade nao deve alienar o homem de suas responsabilidades sociais. Pelo contrario, deve leva-lo a engajar-sem em projetos de transformacao social. A verdadeira espiritualidade deve ser “ infiltrada”. Quando Jesus nos ordena sermos sal da terra e luz do mundo esta falando desse processo de infiltracao.
Houve momentos na história em que o Cristianismo nos legou um grande exemplo de engajamento com as questões sociais: 1-A Igreja Primitiva (At 2:42-47; 4:32-37); 2- O Cristianismo Primitivo, que foi perseguido por não concordar com a idolatria (culto a Cesar), com a escravidão, com os negócios excusos, com a imoralidade, com a mercantilização da fé correntes no mundo romano de então; 3-O Movimento Anabatista no século XVI, que buscaram uma reforma social na Europa, na chamada revolução camponesa; 4-O Movimento Pietista Ingles (Metodistas), que desenvolveram um forte trabalho de ação social no contexto da Revolução Industrial na Inglaterra; 5-As Igrejas Evangélicas Norte-Americanas, que exerceram grande influência sobre a sociedade, as leis e os costumes no Século XIX.
Vejamos alguns exemplos ao longo da história de cristão “infiltrados”: 1- Bartolomeu de Las Casas, que lutou contra a escravidão indígena no Século XVII; 2- Dietrich Bonhoeffer, que lutou contra o Nazismo na Alemanha, em meados do Século XX; 3- Martin Luther King Jr., que lutou contra o apartheid no sul dos EUA, na segunda metade do século passado; 4- Rev. Frank Chikane que foi uma voz profetica na Africa do Sul durante o regime de segregacao racial. A espiritualidade pos-moderna tem como uma de suas caracetristicas a falta de engajamento nas questoes sociais. A espiritualidade verdadeira nos levara a um engajamento em projetos de transformacao social. “A luta pela justica e a sua incessante busca faz parte da vida daqueles que levam Deus a serio!”.