Tuesday, May 8, 2012


OS TEMPEROS DA VIDA
A  produção greco-turca de 2003, “O Tempero da VIDA”,  roteirizada e dirigida por Tassos Boulmetis  é uma daquelas obras do cinema que não ganharam badalação na mídia nem entraram no circuito comercial. No entanto, têm conteúdo, são belas e inesquecíveis.
O filme conta a história de Fanis, um grego que teve uma infância feliz em Istambul, na Turquia, marcada principalmente pelos ensinamentos do seu avô – dono de uma loja de especiarias, cheio de sapiência, que costumava ensinar sobre astronomia, amor e relações humanas a partir da culinária e da magia dos temperos. Fanis, claro, viu a sua existência ser impregnada por aquele verdadeiro filósofo e seus ensinamentos.
O argumento do filme veio a trazer a confirmação daquilo que eu ja experimentei muitas vezes. A ligação da vida com seus temperos. A vida sem sabor, amargos ou doces, nao é realmente vida!
A nossa memoria olfativa nos faz ligar aromas a situaçoes do passado e presente. Assim tambem a nossa memoria palativa nos traz doces ou amargas lembranças!
Interessante é que a vida esta cheia de aromas e sabores que, em algumas fraçoes de segundos, nos fazem viajar no tempo.
O cheiro do sabonete “Phebo”  me conduz ao final de minha adolescencia quando estive por uma temporada em Belém do Para, misto de viagem missionaria e aventura teatral. A vida naquela é poca era docemente perfumada pelos ideais!
O sabor inesquecivel de um doce de mamao, uma das (poucas!) especialidades culinarias de minha mae, ou o  sabor simples de um pastel com caldo de cana (um paulista entendera isso) podera parecer proletario demais para alguem, mas para quem se distanciou de sua  terra torna-se uma razao de saudades. A saudade é um tempero agri-doce!
Apaixonado pelas letras fui apresentado ao Livro dos livros e descobri que a poesia não era profana e que o amor era o mais sacro dos sentimentos. O banquete de Salomão, com tortas de uvas para restaurar as forças, maçãs para revigorar, e a presença de aromaticos e suaves perfumes me despertou para a “exoticidade” da vida. A vida é  mais do que a rotina massacrante, a vida é  poesia, viagem, sonho!
O cheiro do café torrado, moido na hora,  na padaria da esquina pode nos fazer  imaginar que a vida é  simples,“muito simples para quem esta cansado e precisa marchar”, citando o estadista e poeta angolano Agostinho Neto. A simplicidade é um tempero essencial, sem ela a vida se torna complexa e “destemperada”.
Quantos outros aromas! Quantos outros sabores nos apresentam a vida!
Nao esquecamos que tambem o amargo do limao que, adocicando,  transformamos em limonada faz parte da feira que se coloca diante de nos a cada dia. Muitas vezes, como ocorreu com Noemi,  as decepçoes da vida nos tornam amargos , mas assim como as aguas de Mara se tornaram doces podemos ter a certeza de que o Senhor dos temperos, o Mestre da cozinha existencial sabera dar o sentido devido ao sabor.
Da terra africana escrevi que “perfume pela manhã no decorrer do dia se torna em odor e gotas de suor se tornam em sabor...” , não preciso explicar isso para quem ja viveu ou visitou Africa!
Ainda reservarei mais tempo aos banquetes da vida, ainda me deitarei em seu divã.  Enquanto o nardo exalara o seu perfume, apreciarei o sabor exotico do suco de  romã. Depois, descerei a jardins de nogueiras e brindarei, com uma taça de vinho aromatizado, diante da morte: Um brinde a vida!